sábado, 13 de novembro de 2010

Francisco

            Sabe aquelas pessoas das quais você sempre reclama, mas dia a dia, vai ficando mais parecida com elas? Ontem me senti uma titia velha, daquelas que agarram nossas bochechas e dizem que nos pegaram no colo quando tínhamos acabado de nascer. Todo mundo odeia essas titias.
            Meu irmão vai fazer sete anos. E parece que foi ontem que minha mãe chegou para mim e disse que eu teria um irmãozinho. Acho que ninguém que não tenha um irmão ou irmã mais novos vai entender do que eu estou falando. Apesar de reclamar das tais titias, agora entendo como é para elas, ver aquela pessoa que há dias atrás você segurou no colo, ensinou a andar e deu banho, aquela pessoinha que era tão pequena que você precisava pega-la no colo para olhar olho a olho. Virarem outras pessoas.
            Agora essa pessoa já faz suas coisas sem a sua ajuda, nem quer mais saber de você. Antes você era o ídolo dela, agora são os amigos mais velhos, super heróis da TV, e cantores de cabelo pro lado. Antes, você precisava ler pra essa pessoa para fazê-la dormir, hoje ela lê sozinha, e já até sabe escrever. Você costumava cantar para ele, e hoje ele prefere ver desenho animado. E sem sua companhia.
            Meu irmão achava que eu sabia de tudo, achava que não houvesse nada que eu não soubesse fazer, mas como o tempo foi passando, a ilusão de que a irmã mais velha era a melhor pessoa do mundo, foi passando, e agora, sou só a chatinha, que agarra sua bochecha e diz que o segurou no colo quando era bebê.
            O fato de que, em alguns anos, meu irmão não vai mais precisar de mim, me faz pensar que assim como nós ás vezes odiamos nossos pais por se preocuparem conosco, ele ira me odiar. Sempre. Finalmente entendo o que é para a minha mãe e o meu pai. Como aceitar que os filhos crescem e se libertam da gente? Como aceitar que alguém que sempre precisou da sua ajuda, da sua presença e do seu amor, agora não precisa mais?
            Meu irmão faz 7 anos em janeiro, e na verdade, continua uma criancinha que precisa dos pais para fazer o dever de casa, tem medo de sapos venenosos e não dorme de luz apagada. Em resumo, ele ainda é um bebê. Mas assim como 6 viram 7, e 7 viram 8, um dia meu irmão terá 14 anos, depois 15, e então 16, e tudo que ele vai querer, vai ser que eu fique longe dele e dos amigos, vai esconder as coisas de mim, e me achar uma chata por querer que ele tome cuidado.
            Consigo facilmente imaginá-lo com 15 anos, saindo para beber com os amigos, namorando, fumando, fazendo coisas que não devia, fazendo coisas que todo mundo de 15 anos faz. Vou dizer para ele que já passei por essas coisas, mas assim como quando nossos pais nos dizem isso, e nós acreditamos, mas não ligamos, ele também não vai ligar.
            Olho para ele agora, com o cabelinho castanho caindo na cara. Ele ainda gosta de Justin Bieber, dorme com bichinho de pelúcia, não sabe fazer letra cursiva, acha “porra” a pior palavra do mundo, chora quando perde ‘Uno’ para mim, usa cadeirinha no carro, acha que 100 é o maior número que existe, e tem medo do escuro.
            Quando lembro desses fatos, penso que talvez, ainda vá demorar para que ele se transforme em algo que não é agora. E repito para mim, que devo começar a me preocupar com todas essas coisas, somente daqui a uns 5 anos a mais de vida. Mas ai eu lembro que se 6 anos e 11 meses, 1,20 metros e 32 quilos surgiram assim, tão rápido, tão do nada. O que são 5 anos? Mas ai repito para mim mesma, ele ainda é um bebê, ele ainda precisa de você. 

4 comentários:

  1. amei seu texto, queria saber sobre quem você tava falando... me diz?

    ResponderExcluir
  2. obrigada!! acho que você errou de texto, hahaha. esse é sobre meu irmão, o de cima é sobre duas amigas minhas.

    ResponderExcluir