segunda-feira, 29 de novembro de 2010

14 anos.

Sábado de manhã, Rio chuvoso e violento, tédio tédio tédio. Pego o telefone

- Julia, vem aqui pra casa?
- Não, vem você para cá.
- Ah porque?
- Preguiça de andar até ai.
- Eu te trago no colo.
- Ta... Vamos ver um filme?
- Terror.
- Comédia.
- Ah não.
- Quero ver ‘Pequena Miss Sunshine’.
- A gente já viu
- E daí?
- Quero ver ‘Um ensaio para a cegueira’.
- Não mesmo.
- Por favor, Julia.
- De jeito nenhum.
- Não vou ver Pequena Miss Sunshine de novo.
- Ta, a gente se encontra na locadora.

                Depois de 40 minutos na locadora, finalmente saem os dois filmes (aventura, e drama). Chego na casa dela, dois beijinhos na minha segunda mãe. Pulamos no “sofá”. O tempo passa rápido, o tédio ainda é tédio, mas agora já não é tão chato. Parece que fazer nada na casa dela, é diferente de fazer nada na minha casa.  
                Abro a geladeira, pego as coisas, lavo louça, tenho escova de dente, pijama. Vou tomar banho, e a ultima toalha que usei ainda esta pendurada no box, como se soubessem que não passaria dois dias sem passar por lá. Pego o controle, já sei onde está, pause no filme, atendo o telefone.
                Afinal, como não me sentir em casa, num lugar onde passo tanto tempo quando aqui onde estou agora? Como não me sentir em casa em um lugar onde chego em 5 minutos, e sou recebida como moradora da casa? Como não se sentir em casa, quando se está com sua família?
                Se fosse aqui, com meu irmão, meu pai e minha mãe, assistir ídolos, comer pão de queijo mutante, ouvir aquele CD (que você sabe qual é, haha), jogar the sims, seria chato. Mas parece que não são as coisas que fazemos que tornam nossos dias divertidos, e sim com quem fazemos.
                “Mãe, vou para a casa da Ju”. Quantas vezes por semana digo isso? Pelo menos uma, nem que seja apenas 30 minutos na sexta feira, antes do treino. “Paula, você vai dormir em casa”, ela diz. E acabo que durmo em casa mesmo... pego minha almofada rosa de coração, e meu lençol do mickey, na verdade to na casa da Julia, ta, to na minha também... minha mãe não especificou em qual das minhas casas era para eu dormir.
              Hà 13 anos atrás, a primeira vez que dormi na casa dela, tinha 2 anos de idade, e chorei quando minha mãe foi embora. Não choro mais, alias, faço de tudo para me livrar um pouquinho de meus pais, do estresse e das obrigações, e ir passar um tempo com a Júlia, nem que seja só para observar enquanto ela arrumar o quarto.
                As pessoas perguntam se acho que vai ser para sempre, perguntam se eu não canso dela, perguntam se eu não tenho vontade de matar ela as vezes. Claro que canso, claro que vai ser para sempre, claro que da vontade de matá-la. Como não se irritar com todas as ações metódicas e chatas dela? Como não se irritar com o barulho que ela faz quando come chocolate, com sua lerdeza, os complôs com a Vitória, e a preguiça de andar até lá em casa comigo?
                Ao mesmo tempo, como não adorar alguém que te faz rir com as coisas mais idiotas do mundo, que até xinga seu irmão por você, que conhece sua família inteira, e sabe os nomes e sobrenomes, alguém que não se importa quando você atende a porta com a cara toda amassada de sono, e quando não tem nada para comer na sua geladeira. E... Como não adorar sua irmã?
                São 14 anos de briga, de choro, de bronca, de irritação, de sono, de tédio, de dança, de riso, de tapa, de presentes, de brincadeiras, de amigos, de família... são 14 anos de locadora, de fofoca, de segredo, de implicância, de passeio, de almoço, de jantar, de internas, de viagens... são 14 anos de música, de livro, de filme, de machucado, de medo, de clube, de turma, de apelidos...




Já são 14 anos de Julia.  
  

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Apego ou dependência?

            Novamente arrumar meu quarto me fez refletir sobre algo importante. É incrível como nós, seres humanos, guardamos coisas das quais não precisamos. Não digo que fazemos isso por mal, do tipo ‘mão de vaca’ mesquinho que não da nada pra ninguém, mas o fato é que, as vezes, nos obrigamos a guardar coisas das quais não precisamos, porque temos medo de nos desfazer delas.
            Veja se entende, hoje vasculhando meu armário, encontrei uma caixa de bijuterias velhas, dentro dela, havia um brinco feio de plástico e sem par. De inicio fiquei fitando-o, fazendo de tudo pra arranjar uma desculpa para mantê-lo comigo, sem nem ao menos saber porque o queria. Fiquei tentando lembrar se tinha sido importante para mim no passado, nada demais. Tentei me lembrar de quem tinha me dado ele, talvez um parente já falecido, ou algum amigo muito especial. Não, era apenas um brinco que eu havia comprado na segunda série, na renner.
            Então comecei a questionar porque queria ficar com ele. Obvio que não o usaria nem se me pagassem, e nem ao menos poderia usar para enfeitar. Mas então para que guardá-lo de volta na caixa para deixá-lo mofando lá dentro? A resposta é simples: não gostamos de nos desfazer de nossas coisas, porque objetos velhos e inúteis nos fazem notar o quão rápido o tempo passou.
            Basicamente, se resume a uma palavra: saudades. Eu, especificamente, cheguei a conclusão que não gosto de me livrar dessas coisas velhas, porque tenho medo de mudar. É, basicamente isso. Medo de admitir que o tempo a minha volta passa, e que em alguns anos, as coisas que hoje em dia eu gosto, serão apenas brincos velhos da renner. Coisas que hoje eu digo que são pra sempre, podem ser só fotos e lembranças da próxima vez que for pintar meu quarto.
            Não necessariamente apenas coisas, pessoas também. É incrível como algo que ontem era importante para você, amanhã pode não ser mais. Sei que as mais importantes sempre ficam, mas existem as pessoas brinco, as pessoas que não são importantes o suficiente para não serem jogadas fora, quando você for arrumar seu quarto. Aquelas que hoje você diz que gostaria de manter até ser velhinha, e que ira contar sobre ela para seus filhos. O fato é que são poucas as que vão realmente presenciar sua velhice.
            Então acho que no final, o melhor a se fazer é dar essas tais coisas para pessoas que precisam mais que você. Porque algo que pode não significar mais nada pra você hoje, as vezes, vira algo necessário e importante na vida de outra pessoa. É por isso que peguei minhas tralhas e doei, roupas, brinquedos velhos, e até um mp3. Mas um dos poucos bagulhos eu não dei, e não vou dar, é aquele brinco. Porque mesmo que não fosse importante antes, ele se tornou algo na minha vida, ao me fazer refletir sobre tudo isso.
            Guardem, esqueçam, mantenham ou joguem fora... mas nunca deixem de doar também.  


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Vazio

            Meu quarto estava sendo pintado (de rosa. Pois é, nem fala), e por isso, passei o dia todo recolocando minhas coisas que antes estavam largadas no quarto de meu irmão, de volta em seus lugares. Remexendo em antigos livros de escola, livros da quarta e quinta série, encontrei um diário. Imagine o livrinho mais feioso do mundo, verde limão com umas flores escrotas na capa. Então, embora feio, está bem recheado, chutaria que tem mais de 50 páginas, o que é muito para uma garota de 10 anos.
            Foi folheando o diário, que encontrei um texto que não me recordava mais. Acho que alguns podem até entender do que se trata, e por isso gostaria que essas tais pessoas soubessem que não tenho mais rancor guardado por causa desse acontecimento.
            Mudei-o um pouquinho, omitindo algumas partes que podem ser “queima filme” para alguns amigos, e melhorei bastante a gramática, que estava vergonhosa. Mas então é isso, para que entendam, esse texto foi feito no ano de 2006, quando estava na quarta série.  

            Não acredito que elas fizeram isso. Elas não devem saber como é soltar todo o choro que prendeu durante a meia hora de viagem na condução, no meio do elevador. Elas não devem saber o que é ter tanta vergonha do que te fizeram, que implora pra sua mãe deixar você faltar à aula no dia seguinte. Também não devem saber o que é descobrir que suas amigas te odeiam, se sentir tão humilhada que quer se esconder para sempre. Se soubessem, sei que não teriam feito o que fizeram.
            Como pode ser justo que você seja castigado por fazer a coisa certa? Me ensinaram que discordar daquilo que você acha errado, e lutar para acabar com isso, é a melhor coisa a fazer, mas parece que quando você discorda da opinião das pessoas, elas podem mudar de opinião quanto a você. É muito ruim a sensação que estou sentindo, diário... Queria poder contar e desabafar com minhas amigas, mas como desabafar com as mesmas pessoas que te causaram a tal dor?
            Ser humilhado é ruim, mas se torna mil vezes pior quando vindo da parte de alguém que você ama, e que nunca esperou que fosse fazer isso. Pior ainda, é quando você sabe que essas pessoas fizeram o que fizeram com toda a intenção de te machucar. E pior ainda, é não ter ninguém para quem contar isso. Meu coração foi destroçado no minuto em que ela me entregou aquele papel amassado do lixo, aquele papel que a gente tinha visto elas rabiscarem a aula inteira.
           
Primeiro veio a surpresa, depois a indiferença, ai a tristeza, então a raiva e por fim, o vazio.




sábado, 13 de novembro de 2010

Francisco

            Sabe aquelas pessoas das quais você sempre reclama, mas dia a dia, vai ficando mais parecida com elas? Ontem me senti uma titia velha, daquelas que agarram nossas bochechas e dizem que nos pegaram no colo quando tínhamos acabado de nascer. Todo mundo odeia essas titias.
            Meu irmão vai fazer sete anos. E parece que foi ontem que minha mãe chegou para mim e disse que eu teria um irmãozinho. Acho que ninguém que não tenha um irmão ou irmã mais novos vai entender do que eu estou falando. Apesar de reclamar das tais titias, agora entendo como é para elas, ver aquela pessoa que há dias atrás você segurou no colo, ensinou a andar e deu banho, aquela pessoinha que era tão pequena que você precisava pega-la no colo para olhar olho a olho. Virarem outras pessoas.
            Agora essa pessoa já faz suas coisas sem a sua ajuda, nem quer mais saber de você. Antes você era o ídolo dela, agora são os amigos mais velhos, super heróis da TV, e cantores de cabelo pro lado. Antes, você precisava ler pra essa pessoa para fazê-la dormir, hoje ela lê sozinha, e já até sabe escrever. Você costumava cantar para ele, e hoje ele prefere ver desenho animado. E sem sua companhia.
            Meu irmão achava que eu sabia de tudo, achava que não houvesse nada que eu não soubesse fazer, mas como o tempo foi passando, a ilusão de que a irmã mais velha era a melhor pessoa do mundo, foi passando, e agora, sou só a chatinha, que agarra sua bochecha e diz que o segurou no colo quando era bebê.
            O fato de que, em alguns anos, meu irmão não vai mais precisar de mim, me faz pensar que assim como nós ás vezes odiamos nossos pais por se preocuparem conosco, ele ira me odiar. Sempre. Finalmente entendo o que é para a minha mãe e o meu pai. Como aceitar que os filhos crescem e se libertam da gente? Como aceitar que alguém que sempre precisou da sua ajuda, da sua presença e do seu amor, agora não precisa mais?
            Meu irmão faz 7 anos em janeiro, e na verdade, continua uma criancinha que precisa dos pais para fazer o dever de casa, tem medo de sapos venenosos e não dorme de luz apagada. Em resumo, ele ainda é um bebê. Mas assim como 6 viram 7, e 7 viram 8, um dia meu irmão terá 14 anos, depois 15, e então 16, e tudo que ele vai querer, vai ser que eu fique longe dele e dos amigos, vai esconder as coisas de mim, e me achar uma chata por querer que ele tome cuidado.
            Consigo facilmente imaginá-lo com 15 anos, saindo para beber com os amigos, namorando, fumando, fazendo coisas que não devia, fazendo coisas que todo mundo de 15 anos faz. Vou dizer para ele que já passei por essas coisas, mas assim como quando nossos pais nos dizem isso, e nós acreditamos, mas não ligamos, ele também não vai ligar.
            Olho para ele agora, com o cabelinho castanho caindo na cara. Ele ainda gosta de Justin Bieber, dorme com bichinho de pelúcia, não sabe fazer letra cursiva, acha “porra” a pior palavra do mundo, chora quando perde ‘Uno’ para mim, usa cadeirinha no carro, acha que 100 é o maior número que existe, e tem medo do escuro.
            Quando lembro desses fatos, penso que talvez, ainda vá demorar para que ele se transforme em algo que não é agora. E repito para mim, que devo começar a me preocupar com todas essas coisas, somente daqui a uns 5 anos a mais de vida. Mas ai eu lembro que se 6 anos e 11 meses, 1,20 metros e 32 quilos surgiram assim, tão rápido, tão do nada. O que são 5 anos? Mas ai repito para mim mesma, ele ainda é um bebê, ele ainda precisa de você. 

Primeiro poste

              Não acredito que fiz um blog, simplesmente não acredito. Para que perder meu tempo escrevendo sobre coisas que ninguém quer ouvir, e postar aqui, onde ninguém irá ler? Fácil responder. O Fato é que as presentes aulas de meu professor de história (salve Marcus Venício) me fazem tão entediada, que escrever parece ser a única saída. Então é isso, não me critiquem muito, não sou boa com palavras.